Ação Privada e Experiência do Corpo Multissensorial no Projeto Radionómada de Rodrigo Paglieri: Parte 2

Rute Rosas, Porto, Agosto 2019

 

Como breve enquadramento tomo o termo Ação Privada e o texto que escrevi entre 2018 e 2019: Ação Privada e Experiência do Corpo Multissensorial: Motivações e anúncio da designação e significação nas Artes Plásticas.[1]

À luz do conceito de Ação Privada e do Projeto Radionómada de Rodrigo Paglieri, do qual que tive conhecimento e comecei a acompanhar quando o artista visitou a cidade do Porto[2]. Motivada pelas conversas que tive com o artista sobre o seu percurso artístico, investigações e o interesse artístico e académico que este projeto apresentava resolvi conceber e programar, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) e com o Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade da FBAUP (I2ADS), duas iniciativas: Apresentação do Projeto após o início da caminhada radio-mapa, na Livraria do I2ADS/FBAUP[3] e que permitiu o acompanhamento do projeto, em direto, através da pagina web que o artista criou– www.radionomade.art - e a Masterclass 5 leituras sobre o Projeto Radionómada: uma viagem, uma caminhada em rádio-mapa com Rodrigo Paglieri que aconteceu em 28 de Maio de 2019, na Aula Magna da FBAUP[4].

A escolha deste projeto em concreto para a escrita deste ensaio, prende-se diretamente com as relações que este estabelece com o conceito de Ação Privada, mas também com o Corpo Multissensorial, e a possibilidade que tive de acompanhar parte do processo, o seu decurso online desde a saída de La Infinita[5] em Barcelona no dia 15 de Abril, e o após até a data de regresso de Rodrigo Paglieri para o Rio de Janeiro, em junho.

Deste modo, e pelas motivações apresentadas, enuncio sinteticamente a definição de Ação Privada que tem, na sua aceção, duas motivações públicas o que será o mesmo que dizer que serão inúmeras e imensuráveis todas aquelas que pertencem ao domínio do Privado e/ou do Íntimo – o Verídico, a Experiência Vivencial, o Impulso da Imaginação Criadora e a Autocensura com agente poético[6].

As práticas artísticas referentes à Ação Privada encontram-se inseridas na definição de Happening, em Artes Plásticas. Como é sabido, o conceito Happening é distinto de Performance por, entre outras variantes, ser irrepetível.

Foi neste sentido que encontrei no Projeto Radionómada e em Rodrigo Paglieri, artista, professor e pesquisador chileno (Santiago do Chile, 1969) e que vive e trabalha no Brasil desde 1988, uma primeira e clara relação com o pensamento expresso.

Nas palavras de Rodrigo Paglieri para a apresentação do Projeto Radionómada na pagina web onde se encontra hospedada a rádio web, podemos ler que este projeto “de rádio consist[iu] em uma caminhada de 45 dias pelo interior da Península Ibérica, entre Barcelona e Porto, e a criação de uma estação de rádio digital na plataforma Google Maps com interface gráfica de mapa e rastreamento de localização geográfica. É um projeto artístico de mapeamento sonoro, tendo a caminhada como processo cartográfico e o rádio como instrumento coletivo de desenho de mapas. (…) RADIONÓMADA (é) uma estação de rádio digital na interface gráfica do Google Maps, que mostr[a] em tempo real a localização e os deslocamentos no mapa, através de uma trilha GPS, ao mesmo tempo que transmite ao vivo o áudio do rádio capturado in loco. A interface gráfica relacion[a] o som transmitido ao local correspondente no mapa. O site também te[m] uma ferramenta para identificar o rádio que está sendo transmitido e sua geolocalização, através de um ícone de uma antena no mapa, que funciona como um link para acessar ao nome da estação de rádio e breves descrições on-line realizadas em tempo real sobre o local e a comunidade. A programação da RADIONÓMADA (é) aleatória, resultando de a retransmissão da programação das estações de rádio pelas quais passar o projeto. É uma colagem sonora composta aleatoriamente pelo encontro com as antenas de transmissão FM, enriquecida pela diversidade de discursos e sons[,] (…) como trilha sonora, em conexão direta com a pista da estrada ou do caminho a percorrer”[7]. Neste Projeto também temos acesso a um gif animado que representa Rodrigo Paglieri e que além de nos indicar a sua localização no percurso deixa um rastro do caminho percorrido.

O Projeto Radionómada foi um acontecimento único, uma ação num tempo, espaços e duração específicos que, se por um lado nos poderá remeter para a ideia de Site-Specific, por outro, distancia-se por tanto ou mais do que o lugar, ser o corpo e o deslocamento num espaço e o tempo que o motivam – Corpo e Entorno. De qualquer modo, dentro deste contexto onde nos situamos há o irrepetível, mas também o resíduo, a documentação, o apuramento do que interessa realmente que fique e que seja sociabilizado.

Na Ação Privada o corpo-presente, explícito, do(s) performer(s) não é condição obrigatória nem necessária, como sucede neste caso concreto do Projeto Radionómada, e é-lhes subtraído tudo o que não importa ao público e/ou que não é passível de ser mostrado e que se mantém no âmbito do Privado e/ou do Íntimo, conforme referi. Trata-se assim de uma variante do Happening ou Ação como preferia Joseph Beuys (1921 – 1986).

Durante este texto darei alguns exemplos da obras e artistas do século XX e XXI como pontes e relações ao Projeto Radionómada, considerando que estas obras elucidam, de algum modo, o que entendo por Ação Privada de experiência Multissensorial do corpo do artista, mas também, em alguns casos, do Outro, dos outros, dos fruidores ativos ou passivos na perceção e receção das Obras de Artes Plásticas[8].

Neste sentido e antes de nos centrarmos em Rodrigo Paglieri, inicio com um exemplo paradigmático e um dos artistas que, pelo seu percurso e obras, impulsionou a decisão para a escrita e desenvolvimento desta definição: Joseph Beuys. O artista alemão foi um dos maiores educadores para o uso dos sentidos, dos artistas mais influentes da década de setenta e uma referência na arte do séc. XX - colocando em prática as ideias filosóficas e educacionais de Rudolf Steiner (1861 - 1925), fundador da Antroposofia ou conhecimento através da experiência supra-sensível - a Arquitetura tinha que ser escultórica, porque a Escultura, segundo este, é a linguagem plástica mais completa. Desenvolvendo o conceito de Eurhythmics: qualquer um que se mova ou se expresse tem que fazê-lo harmoniosamente (eurhythmically), como uma escultura móvel. “Pode afirmar-se que, considerando a angústia como o conceito mais adequado para o sistema em que vivemos”[9], Beuys privilegiava a decisão de todos nós que, segundo ele, só funciona mediante uma autodeterminação que tem como ponto de partida a liberdade e a criatividade - característica humana que deve ser explorada. Nas palavras de Beuys durante uma entrevista com Franz Hak em 1979, a criatividade não é monopólio das artes. “Quando eu digo que toda a gente é artista quero dizer que cada um pode concentrar a sua vida nessa perspetiva: pode cultivar a artisticidade tanto na pintura como na música, na técnica, na cura de doenças, na economia ou em qualquer outro domínio... A nossa ideia cultural é muitas vezes redutora”[10].

A ação I Like America and America Likes Me de 1974, por exemplo, iniciou-se bem antes da sua apresentação pública na René Block Gallery. Beuys viajou de avião até o aeroporto JFK, em Nova Yorque, foi embrulhado em feltro por amigos e transportado de ambulância até à galeria.

Durante 3 dias e em turnos de 8 horas por dia, Beuys ocupou um pequeno espaço da Galeria, do qual temos acesso a registos visuais e documentos, com um manto/capote em feltro que o cobria completamente e que se prolongava além dos seus pés, um par de luvas, uma bengala, cópias do The Wall Street Journal entregues diariamente e um coiote vivo. O coiote oscilou entre atacar o feltro e urinar sobre os jornais, mas eventualmente tornou-se afável o suficiente para permitir um abraço de Beuys, que no final dos três dias foi envolvido em feltro mais uma vez e voltou para o aeroporto. Durante todo o projeto, Beuys não tocou o solo americano, como pretendia e como antecipou na estrutura conceptual do seu projeto para esta ação de contornos e afirmação claramente política e profundamente poética.

Radionómada de Rodrigo Paglieri também se caracteriza pela persistência, presença, envolvimento do corpo inteiro e multissensorial numa Ação Privada.

Não se tratando de um projeto autobiográfico, com sucede com Beuys é, certamente, autorreferencial pela imprevisibilidade da experiência a vivencial: o que entendo como verídico enquanto verdade autorreferencial. O Radionómada necessita do artista por inteiro, enquanto corpo – máquina cobaia da sua própria obra enquanto meio e interface, como decisor em todas as etapas e de todas as ações.

No antes da ação, a experiência do seu corpo sensorial ainda não existe. Paglieri não experimentou nem experienciou, e apenas poderia supor o que seria o durante, pelas investigações realizadas e projetos artísticos anteriores como o Projeto Mudapé[11] de 2016. Assim, o processo pode ser considerado a fase primordial e basilar destes projetos. O seu objetivo é cerebral, racional e rigoroso na procura de precisão, mas no durante da ação muito se alterou e foi-se adaptando às imensas variáveis. Esta variáveis adquirem, simultaneamente, mais magia e mais poesia, enriquecendo o artista e preparando-o para o que virá após concluído o percurso: veja-se o que é dado a conhecer quer na pagina web como no diário de bordo que serviu apoio ao processo da ação decorrida entre 15 de abril a 22 de maio de 2019.

Acompanhei a saída do artista de Barcelona através da internet e apercebi-me imediatamente que o percurso se tornaria cada vez mais árido e solitário através do Google Maps, no entanto, a riqueza de sonoridades transmitidas pelo rádio anunciava o que tinha entendido desta ideia de Paisagem Sonora. As estações de rádio sobrepunham-se de forma quase galopante, atrapalhavam-se, cruzavam-se e em muitos momentos, deste primeiro dia, ouvi fragmentos de notícias, debates, publicidade, musica diversa, sempre em Catalão.

Nos dias que se seguiram foi notório o grau de dificuldade em realizar o percurso quer pelo êxodo e consequente envelhecimento populacional e demografia em muitas regiões rurais do interior, pela desertificação, pela perda de rede no telemóvel, por um elevado tempo em locais áridos quase desérticos. Radionómada revela-se uma experiencia de sobrevivência muitas vezes solitária. Neste processo, o corpo é muitas vezes solitário, consigo mesmo, ou com o que vai escutando através da rádio. Por vezes, suponho que extenuante, cansativo, doloroso para o corpo, para a concentração no caminho. Os ouvidos escutam consecutivamente misturas aleatórias de sonoridades, mas também de ruídos, muitas vezes, sobrepostos. O que vem ou chega e também o que vai e desaparece de repente ou vai desaparecendo quando as ondas das estações de rádio se baralham pela ação de caminhar, ou se perdem pelo mesmo motivo ou outros que ultrapassam o corpo nómada e artista caminhante, Rodrigo Paglieri.

A mochila e todo “o aparato”, como refere Rodrigo, com o estritamente necessário, “uma mochila equipada com rádio analógico, telefone celular e antena auxiliar, típica da banda FM”, alguma roupa e o básico para a higiene diária, saco-cama, alimentos, água e outros equipamentos para manutenção – baterias, carregadores, etc., atravessa o corpo e é fundamental para a concretização da ação. Uma espécie de kit de sobrevivência, mas, igualmente, um prolongamento ou mesmo prótese que deixa marcas no corpo. Podemos presumir que, para Paglieri, este “aparato” se vai tornando, cada dia que passa mais pesado, nos finais dos percursos diários sempre inesperados e/ou inusitados. O cansaço torna-se, concomitantemente, um travão e uma motivação para continuar até ao destino. O Porto, um Porto e ponto de ligação ao Oceano Atlântico que o levará de volta ao local de onde partiu meses antes.

O aliciante e singular percurso de Beuys demonstrou o alcance da relação Obra/Vida, Arte/Vida. Privilegiando a decisão de todos nós e que, segundo ele, só funciona mediante uma autodeterminação que tem como ponto de partida a liberdade e a criatividade como característica humana que deve ser explorada, cria o conceito de Soziale Plastik ou Escultura Social, partindo do pressuposto de que a criatividade é uma capacidade comum a todos. Nas suas palestras abertas no final da década de 1970 este conceito foi usado para descrever um conceito expandido de arte que incorpora a compreensão do artista sobre o potencial da arte de transformar a sociedade. O artista como sujeito que cria ativamente e molda estruturas na sociedade, envolvidas em um processo de transformação social, usando ações, objetos e situações estéticas. Nesse sentido, os espectadores/fruidores ou, em muitos casos participantes ativos são igualmente responsáveis pelo que a sociedade é e representa. Nesse sentido Beuys promoveu discussões em grupo com indivíduos de uma comunidade específica que, enquanto materiais que moldam também e potenciam a construção de obras de arte.

Em Radionómada existe uma estrutura conceptual subjacente ao projeto de características aproximadas à Soziale Plastik. Como refere Rodrigo Paglieri o seu “intuito é que o público complete com sua carga cultural e sua inventividade os territórios da paisagem rádio-mapa. A ação da paisagem rádio mapa, também envolve um outro público, que não aquele que acesa a obra pelo rádio-mapa seu aparato expositivo. Nos referimos a um Outro do caminho, que é um público espontâneo e que, muitas vezes, participa da realização da obra indicando um caminho, trocando experiências. O Outro do caminho se relaciona de outra forma com o trabalho, muitas vezes nem mesmo pressentindo que se trata de um trabalho de arte”[12].

De qualquer modo Paglieri entende a sua ação como “velada” e que “Por uma escolha ética e estética resolvemos que o cotidiano do corpo que move e realiza o trabalho na construção da paisagem esteja oculta no aparato expositivo do trabalho. Uma ação próxima do happening da performance, mas que com nenhuma delas se confunde. O artista realizador caminha, sintoniza, transmite, se relaciona com o Outro e com a geografia do caminho. Ele atua, se move, realiza, performa, no sentido de ter um desempenho, mas isto o público não vê, o que se quer é que o público pressinta este desempenho pelo que lhe é dado ver e ouvir, a saber a localização, o percurso, as rádios locais, os efeitos sonoros da geografia sobre a propagação das ondas de rádio. Em outras palavras, o que se quer que ele intua a paisagem relacional através do que se dá a ver e ouvir na paisagem geográfica, na paisagem etnográfica, na paisagem sonora e na paisagem-mapa. Nosso intuito é que o público complete com sua carga cultural e sua inventividade os territórios da paisagem rádio-mapa”[13].

Em meu entender e pelo exposto por Rodrigo Paglieri, mesmo quando enaltece que o seu projeto não deverá ser confundido com uma Performance ou com um Happening, o Radionómada enquadra-se na Ação Privada exatamente por semelhanças às motivações das dos artistas que atuam/agem com os pressupostos desenvolvidos neste conceito.

Por um lado, refiro-me à decisão de não fazer sentido apresentar tudo: os bastidores, todo o processo, toda ação. Obviamente que me refiro a Ações Privadas ou este tipo de acontecimentos artísticos.

Por outro lado, o facto de não fazer sentido mostrar tudo ou apresentar tudo pela consciência de não interessar, a nada nem a ninguém a não ser ao próprio. Este desinteressadamente, no sentido atribuído por Friedrich Nietzsche (1844-1900), antítese do interesse interesseiro dá-se por um certo voyeurismo, ou curiosidade doentia e, por vezes, um pouco promíscua (como são exemplo os programas televisivos Reality Shows, mas também uma determinada utilização das Redes Sociais). No nosso contexto há inúmeros dados que não interessam ao público por decisão do artista, que os considera redundantes, excedentes, e, sobretudo, perturbadores do centro do que pretende e concebeu: excesso de informação reduziria a qualidade do trabalho artístico. Assim, com a responsabilidade inerente a qualquer decisão que está implicada no expor, mostrar, sociabilizar, esta capacidade que o artista tem que realizar uma triagem ao que deseja partilhar com os outros, esta consciência sobre o que deseja que se torne comunicante por si é, em meu entender, uma demonstração de valentia, criatividade e humildade dos artistas, e que revela o nível e o grau de exigência do próprio artista aliado ao respeito pelo público, pelos Outros e pela Cultura.

Não consigo de modo algum entender o problema da chamada liberdade ou falta de liberdade de um artista. Ele nunca é livre. A nenhum grupo de pessoas falta mais liberdade.” É certo que “ele é livre para escolher entre expressar seu talento da maneira mais plena que puder, ou vender sua alma por trinta moedas de prata. (…) Também estou convencido de que nenhum artista trabalharia para cumprir sua missão espiritual se soubesse que sua obra jamais seria vista por alguém. Ao mesmo tempo, porém, sempre que estiver trabalhando, ele deve colocar um véu entre ele e as outras pessoas, para se proteger contra a abordagem de temas genéricos, vazios e triviais. Pois a concretização das possibilidades criativas de um artista só pode ser obtida através de honestidade e sinceridade totais, aliadas à consciência de sua própria responsabilidade para com os outros[14]”. Anuindo com as palavras do cineasta russo Andrei Tarkovski (1932-1986), o que acontece e deverá ser comum a todos nós é, claramente, a interpretação da ou das realidades, cabendo ao artista expressar-se, formalizando em obras de arte, com a responsabilidade da socialização - o confronto e respeito pelo que está entre aquilo que é o seu ver e sentir, e estará e terá nos Outros. Neste sentido, o que denomino de Autocensura como Agente Poético, remete diretamente para uma distinção entre o que é Público e distinto do privado e do íntimo que, muitas vezes, está para além da consciencialização do inconsciente.

Atravessando o Atlântico, relembro os artistas brasileiros, Lygia Clark (1920 - 1988) e Hélio Oiticica (1937 - 1980) e exploração do limite das experiências da participação, de exploração sensorial do corpo. Na possibilidade de cruzamentos destes artistas com o Projeto Radionómada no contexto da Ação Privada, pode-se afirmar, por exemplo, a ideia do artista propositor, e a entrega da obra aos outros como possibilidade de ativação e promoção de experiências e crescimento da energia sensorial existente em cada um e que está escondida e é reprimida pela sociedade. A ideia de artista propositor é uma das abordagens de Rodrigo Paglieri neste projeto, mas também em outros desenvolvidos anteriormente, como: Obra Limpa 1, 2004; Panorâmica Brasília[15], 2011 e o já referido Projeto Mudapé[16].

No entanto, a linha audaciosa, mas perigosa colocada por Clark entre a questão do artista/médico, espectador/paciente, nas suas últimas obras em nada se podem confundir com os projetos de Rodrigo Paglieri. Os Objectos Relacionais e Baba Antropofágica, por exemplo, têm “o poder de nos fazer diferir de nós mesmos” e atuam numa indefinição entre arte e psicanálise encarada pela artista como “um trabalho fronteira: (...) não é psicanálise, não é arte. Então eu fico na fronteira, completamente sozinha[17]”. Numa carta que escreveu a Guy Brett pode ler-se: “Idealmente as minhas obras deviam ser lançadas em grande número ao homem da rua, uma coisa impossível para mim aqui no Brasil[18]”.

No Projeto Radionómada temos o artista propositor que, por um lado, instiga a curiosidade dos outros, age no chamado espaço público e, por outro, convida subtilmente e poeticamente os outros: um posicionamento recorrente no seu percurso e obra artística que neste projeto incita à ação de um fazer do caminho. Nas palavras de Paglieri “o momento expositivo de uma paisagem rádio-mapa é durante sua execução. Trata-se de uma obra processual, não apenas por uma escolha conceitual ou política, mas pela própria natureza da obra. Uma paisagem rádio-mapa é uma paisagem que resulta de uma viagem a pé de uma caminhada, a paisagem rádio-mapa existe de acordo ao corpo em deslocamento na paisagem”[19].

Outra possibilidade de ligação entre obras prende-se com alguns exemplos do percurso inicial de Richard Long (1945 - ). A pagina web oficial de Richard Long inicia-se com uma nota breve onde se pode ler:

Esta foi a estrutura conceptual basilar das primeiras de muitas das obras deste escultor caminhante – remeto-me às décadas de 60 e 70 do seculo XX - destacando alguns exemplos como A line made by walking, de 1967, Walking Line in Peru de 1972, ou em A line in Japan, Mount Fuji de 1979, para realçar o caminho, o caminhar, a marca no lugar distante, o tempo enquanto duração e a Ação Privada do corpo na paisagem.

Em Radionómada, como nos exemplos supramencionados, há uma grande parte do trabalho que dependeu da duração estipulada com limite definido, mas sem certezas quer da conclusão, quer do durante, como já referi – poderia ter acontecido alguma coisa que impedisse fechar a edição, por exemplo. Rodrigo Paglieri não sabia nem poderia saber, quem iria encontrar, se iria encontrar alguém, como reagiriam as pessoas do caminho, e ainda, qual seria exatamente o caminho a percorrer. O Caminho faz-se caminhando[21]como o seu próprio e singular ritual afigurar-se como uma proposta relacional aos outros.

É igualmente percetível que há uma experiência única e multissensorial do corpo do artista, quer em Long como em Paglieri. Mesmo com uma prévia programação e estruturação, definição do início e do fim do caminho, o desenho do mesmo é feito no durante e de acordo com os mais diversos fatores que só o corpo do artista experiencia enquanto Homonómada.

Deste modo, é no após, no depois de uma espécie de digestão da experiência do que foi e ainda é o Projeto Radionómada, que Rodrigo Paglieri pode escrever, descrever ou falar, sobre a mesma. O durante é rápido e lento, simultaneamente; a sobrevivência e desejo de chegada ao destino imperam; o desconhecido e o surpreendente estão presentes em todos os minutos; a preocupação com o rádio, com a transmissão das diversas paisagens sonoras em conjunto com o fazer do caminho, caminhando, sem muitas pausas, mas também e por vezes, sem ter rede ou internet, alteram os estados emocionais e a concentração. As alterações demográficas, geográficas, meteorológicas, também participam nestas alterações e nas suas ações, reações e comportamentos. Tudo isto fica entre parênteses, velado, entre o privado e o íntimo de Rodrigo Paglieri no seu Projeto Radionómada.

O corpo na paisagem é invisível, mas sua presença é sentida e é um jogo de ocultamento. A presença do corpo é denotada pelo ícone que o representa, um gif animado em movimento de pulsação e de deslocamento em decorrência do deslocamento real do corpo, conforme referi anteriormente. A vivência consiste numa experiência da paisagem em tempo real onde a ação da paisagem é uma ação sem corpo visível, percetível apenas pelo pulsar e pelo deslocamento de um ícone na pagina web criada para o projeto, “pelo deslocamento do personagem e pela ação de captura e transmissão de áudio. Mas há um corpo real, performático, na paisagem para capturar, para transmitir, para caminhar, para avançar e para sobreviver no caminho, mas sua performance é uma performance intima e privada. O corpo do Homonômada é um corpo biónico, um corpo que se emociona se cansa e se interessa e um corpo-máquina responsável pelos processos mecânicos que constroem a paisagem rádio-mapa[22], nas palavras do artista.

Além disso, este projeto poderia ser um engano propositado. Uma mentira tecnológica. Radionómada poderia ser totalmente virtual, mas montado e apresentado como real. Se imaginarmos, por exemplo, a utilização de um ou mais drones comandados à distância pelo Rodrigo Paglieri que poderia estar confortavelmente dirigindo e monitorizando todos os mecanismos e aparatos tecnológicos? Não foi nem é, nem o que interessou ao artista que assim fosse. O corpo, o seu corpo atua, age, está lá, presente. Abre-se a conexões, no pensamento de Delueze e Guattari, perceciona e sente o que nós não vamos poder percecionar nem sentir, pelo menos do mesmo modo. Por sermos nós, indivíduos distintos, e porque recebemos apenas o que Rodrigo define como parte integrante do Projeto para a nossa receção – mesmo sujeito à interpretação de cada um – como em qualquer obra de arte e o seu caracter conotativo[23]. O restante, permanece com ele, quer pela incontornável incapacidade de transmitir tudo (um facto em todos os trabalhos artísticos, mas também na vida).

A Poesis, a Imaginação trabalha em conjunto com a Techne, com os limites da linguagem, e, neste caso, os confrontos e jogos irónicos que Paglieri faz com a própria tecnologia, demonstrando inquietudes e limitações desta área do conhecimento científico e tecnocientífico. Só pelo facto de Paglieri ter decidido por usar um rádio analógico, constrange e limita, mas também amplia as possibilidades nesta decisão tomada antecipadamente e propositada que enriquece pela astúcia e audácia todo o projeto.

A linguagem verbal e escrita permite remeter-nos diretamente para a ideia, enquanto em Artes Plásticas a oralidade e a escrita poderão servir como um meio para chegar à ideia: para descrever, explicar técnicas, processos operativos ou enquadramentos, não deixando de ter carácter conotativo porque, a realidade da Arte dá-se pela sua própria existência[24].

L. Wittgenstein deixou evidente a necessidade de ocultar, obrigando-nos a uma reflexão sobre os limites da linguagem – entre o dizível e o não-dizível.

Mesmo que alguém fosse capaz de expressar tudo o que está no seu interior, não o conseguiríamos compreender[25]”.

De qualquer maneira, e sendo a obra de arte um produto humano, o artista não poderá prescindir da materialização, da expressão das suas ideias. Se não as materializa, não as exporta do interior para o exterior de si; se não as sociabiliza, permanecem como pensamentos individuais, íntimos e privados. E o pensamento – sendo ideia ou não - é livre, mas não é Arte, o que dito de outro modo ou por outras palavras, será o mesmo que afirmar que sem que haja manifestação materializada, expressão sociabilizada, não poderá existir, nem ser obra de arte.

“Agindo através de todos os motores que permitem a nossa existência e evolução, a Arte e, mais concretamente, as Artes Plásticas prendem-se, em primeiro lugar, com essa ideia de implicação e troca, uma ação interativa do recetor com as obras de arte. Esta interatividade pressupõe o corpo e os seus conceitos sob duas perspetivas: o corpo como suporte e o corpo como propositor de uma experiência multissensorial”[26]. A segunda perspetiva mencionada, remete-nos para o Projeto Radionómada, por exemplo, e para aquelas obras que só fazem sentido quando há uma experiência física e mental do fruidor, ativo, que as incorpora, e das quais são exemplos as resultantes da Instalação/Ambiente e Site-specific, independentemente das ações performativas, de arte pública e/ou em espaços privados, que possam simultaneamente decorrer. O corpo do artista pode ser o suporte utilizado como demonstração de uma ação a ser vivenciada pelo próprio espectador e, neste caso, o artista serve-se do seu corpo como propositor de uma experiência, conforme já foi referido. O artista pondera a hipótese de que o fruidor faça uso do seu próprio corpo, independentemente da presença do corpo físico do artista, apresentando e/ou propondo uma experiência multissensorial.

Estas abordagens ao tema do corpo implicam diretamente, noções como espaço/escala, o tempo, e os meios, indispensáveis à materialização das ideias.

Por outro lado, parece indispensável traçar um esquema que esclareça acerca daqueles que na sua estratégia criativa anunciaram novos paradigmas para a arte e para os seus fruidores, através de um novo enquadramento de intervenção prática em noções como a perceção da escala, do tempo, ou dos meios.

As experiências vividas por Richard Long e as obras que daí resultam, atribuem ao "lugar o estatuto de corpo, enquanto a body art dava ao corpo o estatuto de lugar. Estas polaridades cruzadas entre corpo e lugar reforçam a sua natureza ilusória. O corpo é um lugar na medida em que o lugar é um corpo"[27].

Depois de uma análise do corpo que temos, que desejamos, ou poderemos vir a ter, chega a altura de trabalhar o espaço e o tempo, nunca divorciados do corpo, porque “ser corpo, nós o vimos, é estar atado a um certo mundo, e o nosso corpo não está primeiramente no espaço: ele é no espaço”[28]. Esta questão do corpo no espaço na qual o espaço também é um corpo, é evidente em Twentysix Gasoline Stations de Edward Ruscha (1939 - ). Realizada em 1963, trata-se, muito sucintamente, de uma publicação em formato livro de artista composta por fotografias a preto e branco com legendas referentes a estações de serviço (postos de abastecimento rodoviário) ao longo da estrada entre a casa de Ruscha, em Los Angeles, e a casa dos seus pais em Oklahoma City. São registos factuais, foto documentos, sem sequência linear que incluem, simplesmente, legendas informativas com o nome e local da estação de serviço.

Este exemplo, remete facilmente para o livro-diário Fragmentos de um Diário de Viagem, de 15 de abril a 22 de maio de 2019, como parte do Projeto Radionómada.

O recurso à imagem e ao som, ao vídeo e/ou à fotografia são, por vezes, ferramentas ou media de expressão da Ação Privada. Em Portugal, o coletivo de arquitetos Os Espacialistas[29], as suas publicações em formato de jornal, como de um Diário da República Portuguesa se tratasse, os Diário dos Espacialistas[30], ou os esquiços fotográficos[31]que integram, por exemplo, o livro O Atlas do Corpo e da Imaginação do poeta, romancista dramaturgo e ensaísta português Gonçalo M. Tavares[32], servem-nos de exemplo. Trata-se de uma espécie de ilustrações fotográficas realizadas em Ação Privada que percorrem toda a publicação escrita em hipertexto, conforme refere o autor do livro, com diferentes possibilidade e níveis de leitura.

Nas palavras de Gonçalo M. Tavares e procurando definir sinteticamente quem são e o que Os Espacialistas “fazem, de forma extraordinária, é, numa pequena imagem, construírem uma narrativa que, tem um antes e um depois que não é visto” não é público, “mas que quem olha para a imagem pode reconstruir”. Trata-se de “citações em termos de imagem”, uma espécie de “sabotagem de seriedade lúdica”[33].

Radionómada também se caracteriza pela persistência, e envolvimento do corpo inteiro e multissensorial que segundo a expectativa de Paglieri poderá servir a “um contágio poético da paisagem rádio-mapa, a outros fazeres e que outros artistas, caminhantes, peformers ou paisagistas, venham a fazer um dia outros projetos de paisagem rádio-mapa como o foi o Projeto RADIONÓMADA. Todos serão diferentes, a experiência da paisagem rádio-mapa é uma experiência única. As paisagens serão outras, a geográfica, a etnográfica, a relacional, sonora e a do mapa. Os resultados das colagens de áudio radiofónicos e os efeitos da geografia sobre o som captado, são irrepetíveis e imprevisíveis”[34].

O gosto pelo caminhar, correr, entrar em devaneio pode ter promovido inconscientemente o principio de todo esse processo para o projeto. No entanto é da experiência e sedução pelo tecnológico, pelo eletrónico, pelo conhecimento transmitido e retransmitido, pela recriação de paisagens renascidas do já existente, ou outros de possibilidade de outros pontos de vista, de outras sonoridades, de ações sociais e mesmo politicamente expressas – transferindo o extremo para si mesmo – que estão na essência dessa inquietação racionalizada de Rodrigo Paglieri e que fica expressa claramente no Projeto Radionómada.

Para terminar este tensaio e abordagem histórica, sociológica, conceptual, mas igualmente poética, repleta de artisticidade, deixo-vos, por alguns instantes, com as palavras de Beuys: “quando uma coisa é difícil, não se pode abandonar só porque é demasiado difícil. (...). É precisamente isso que nos deve servir de estímulo. Se fosse fácil, poderia, agora, estar a descansar[35].

 

 

[1] ROSAS, Rute, 2019. Disponível em http://www.ruterosas.com/pt/textos/

[2] Rodrigo Paglieri não conhecia o Porto. Acompanhei a sua visita, pela primeira vez, em janeiro de 2019, procurando dar-lhe a conhecer a cidade e responder às questões politicas, culturais e sociais, que me ia colocando sobre Portugal e as regiões do Norte de Portugal, mais concretamente.

[3] https://i2ads.up.pt/blog/event/projeto-radionomada/

[4] https://www.fba.up.pt/2019/05/20/radionomada-uma-viagem-uma-caminhada-em-radio-mapa/. As 5 leituras/intervenções e contribuições foram realizadas por Martí Peran da Univertsitat de Barcelona e Miguel Carvalhais, Pedro Tudela, Sofia Ponte, Rute Rosas da FBAUP/UP, com a presença e apresentação do Projeto por parte de Rodrigo Paglieri.

[5] http://www.lainfinitalh.org/radionomada/

[6] ROSAS, Rute, 2011. Estes assuntos, acerca dos quais escrevi nos últimos anos são tratados na minha Tese/Obra de Doutoramento A Autocensura como Agente Poético Processual da Criação Escultórica - Projectos, Processos e Práticas Artísticas. Acessível em Biblioteca da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/83244

[7] Paglieri, Rodrigo, in http://radionomade.art/about.html

[8] ROSAS, Rute, 2002. Assunto tratado em A Percepção Somatossensorial da Obra de Arte: Pressupostos de um projecto artístico, Dissertação de Mestrado em Arte Multimédia apresentada à Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Editora Universidade do Porto. Disponível em http://hdl.handle.net/  

[9]Angustia es el concepto más adecuado para al sistema. (...) seria idiota no estar angustiado. Quiero decir, de momento, la angustia se le pasaría gracias a la estupidez”. BEUYS, Joseph, in Joseph Beuys – Cada Hombre, un artista- conversaciones en Documenta 5 - 1972, pp. 102,103.

[10] “When I say everybody is an artist, I mean everybody can determine the content of life in his particular sphere, whether in painting, music, engineering, caring for the sick, the economy or whatever.” HAKS, F., 1995. Interview with Joseph Beuys. In Joseph Beuys: Diverging Critiques. Liverpool: Tate Gallery Liverpool and Liverpool University Press. Tradução minha.

[11] Visualização em https://rodrigopaglieri.wixsite.com/projetomudape/

[12] PAGLIERI, Rodrigo in Masterclass 5 leituras sobre o Projeto Radionómada: uma viagem, uma caminhada em rádio-mapa com Rodrigo Paglieri, 28 de maio, 2019. FBAUP, Porto

[13] Ibidem.

[14] TARKOVSKI, Andrei, in Tarkovski - Esculpir o tempo (tit.orig. DIE VERSIEGELTE ZEIT, tradução Jefferson Luiz Camargo), 2ª ed. - São Paulo, Martins Fontes, 1998, pp.198,199.

[15] Visualização em https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=_FtUhE_f50k

[16] Visualização em https://rodrigopaglieri.wixsite.com/projetomudape/

[17] CLARK, Lygia, do texto de Suely Rolnik, O híbrido de Lygia Clark , in Lygia Clark, org. e prod.: Fundação Antoni Tàpies, 1997-98.

[18] CLARK, Lygia, in BRETT, Guy, Lygia Clark: Seis Células, Op. cit., p. 19.

[19] PAGLIERI, Rodrigo, op.cit. 28 de maio, 2019. FBAUP, Porto

[20] “In the nature of things: Art about mobility, lightness and freedom. Simple creative acts of walking and marking about place, locality, time, distance and measurement. Works using raw materials and my human scale in the reality of landscapes. The music of stones, paths of shared footmarks, sleeping by the river's roar.” Tradução minha, in http://www.richardlong.org/index.html. Consultado em 2 de Maio de 2019.

[21] CLARK, Lygia, Caminhando, Livro-obra, Rio de Janeiro, 1983, in op. cit., p. 151.

[22] PAGLIERI, Rodrigo, op. cit. 28 de maio, 2019. FBAUP, Porto

[23] ROSAS, RUTE, 2011. A linguagem escrita – denotativa – não serve ao entendimento do processo de criação por este ser conotativo. Assunto tratado em A Autocensura como Agente Poético Processual da Criação Escultórica. Op.cit

[24] Será relevante ainda que entendamos que, nesta cisão lógica/ética, a ideia de procurar a essência do sentido no domínio da lógica – denotativo - é diversa numa relação ética/estética pela impossibilidade de utilização de normas ou critérios objetivos em artes plásticas pois estes são do âmbito da ética e da estética e, portanto, transcendentais ou conotativos.

[25] WITTGENSTEIN, Ludwig, in Últimos Escritos Sobre a Filosofia da Psicologia, tradução: António Marques, Nuno Venturinha e João Tiago Proença, Edição da Fundação Calouste Gulbenkian, Serviço de Educação e Bolsas, Lisboa, 2007, p. 91.

[26] ROSAS, Rute, 2019. Assunto tratado e desenvolvido em Ação Privada e Experiência do Corpo Multissensorial: Motivações e anúncio da designação e significação nas Artes Plásticas.

[27] SILVA, Paulo Cunha e, O Lugar do Corpo- Elementos para uma cartografia fractal. Col.: Epistemologia e Sociedade, dir.: António Oliveira Cruz, Instituto Piaget, 1999, p.32

[28] MERLEAU-PONTY, Maurice, Fenomenologia da Percepção (tít. orig.: Phénoménologie de la Perception, Editions Gallimard, 1945, trad.: Carlos Alberto Ribeiro de Moura), col. Tópicos, Martins Fontes Editora, São Paulo, 1994, p. 205.

[29] Segundo o Luís Baptista, mentor e impulsionador do Os Espacialista: “Os Espacialistas são 1,2,3,4,5,6,7,∞ e o 8 cai” e nas palavras de Delfim Sardo este coletivo situa-se “num território híbrido entre a arte contemporânea e a arquitetura, Os Espacialistas - cujo nome foi retirado ao grupo de artistas italianos em torno de Lúcio Fontana que assim se definiam no final da década de quarenta do século passado – centram os seus projetos na compreensão das relações espaciais, na transfiguração e na metamorfose do espaço corporalmente e simbolicamente habitado. (…) A fotografia possui uma enorme importância no seu trabalho pela sua possibilidade documental, mas também pela forma como pode proporcionar a manipulação e o engodo, parte essencial da ironia dos Espacialistas”. In https://www.facebook.com/pg/espacialistas/about/?ref=page_internal

[30] Os Espacialistas é um projeto laboratorial de investigação teórica e prática das ligações entre Arte e Arquitetura com início de atividade em 2008. Substituem o lápis pela máquina fotográfica, enquanto dispositivo de desenho, de pensamento, de perceção e de diagnóstico do espaço natural e construído, cujas ações são reguladas pelo Diário do Espacialista e auxiliadas pelo Kit Espacialista Por/tátil que transportam consigo. In https://www.bol.pt:4432/Comprar/Bilhetes/73771-goncalo_m_tavares_os_espacialistas_os_animais_e_o_dinheiro-teatro_municipal_rivoli/ consultado em 28 de março de 2019. Remete-se o leitor para https://www.fba.up.pt/2019/03/20/transobjestos-os-espacialistas/.

[31] Expressão de Os Espacialistas. Sugere-se, em síntese, a visualização do Book Trailler Atlas do Corpo e da Imaginação dos Os Espacialistas em https://vimeo.com/78555099, acedido em 20 de junho de 2019.

[32] Em 2013 foi publicada em formato livro, a tese de doutoramento de Gonçalo M. Tavares, orientada por Paulo Cunha e Silva. Nascido em Luanda em 1970, o escritor português foi vencedor de diversos prémios literários de importância mundial e está traduzido e distribuído por mais de 40 países. Entre muitas das suas obras podemos destacar o romance Jerusalém, vencedor do Prémio Saramago em 2005. Este livro foi incluído na edição "1001 livros para ler antes de morrer – um guia cronológico dos mais importantes romances de todos os tempos".

[33] TAVARES, M. Gonçalo in RTPplay – RTP2Atelier d’Arquitetura – Os Espaciliastas – episódio 4, 28 de Abril de 2019. Consultado a 5 de julho em https://www.rtp.pt/play/p5644/e403767/atelier-arquitetura

[34] PAGLIERI, Rodrigo, op. cit. 28 de maio, 2019. FBAUP, Porto

[35] BODENMANN-RITTER, Clara, Joseph Beuys – Cada Hombre, un artista- conversaciones en Documenta 5 - 1972, p. 114, tradução livre.