PROJECTO 0,0º

Rehearsals
11 de Março a 22 de Abril 2017

Galeria Serpente, Porto

Rute Rosas

 

O PROJECTO 0,0º resulta do encontro entre João Dias e Pedro Pires e de duas formações distintas. O João em Pintura e o Pedro em Escultura que são, certamente importantes nos procedimentos e resultados de experiências e estudos de extensão ou prolongamento do Corpo, do Tempo, do Espaço e da Matéria, baseados nos seus interesses comuns pela Imagem, pela Representação, pela Fotografia, pela Narrativa ficcional, objetos e documentos.

Constroem adereços, máquinas, que resultam em cenas, fragmentos quase ilustrativos de episódios que, no imediato, nos parecem estranhos mas que localizamos e identificamos como percursos em viagens passadas.

Os enquadramentos ou pedaços de ações fixados pela Fotografia resultam em diálogos humorísticos mas também filosóficos, quase existenciais, sobre possibilidades de expressão do corpo, da máquina, da natureza.

 

- “Construí uma aeronave na garagem e vais ver como é simples atravessar o oceano!” 

As máquinas, os utensílios manufaturados parecem inspiradas no início da Fotografia, nos maquinismos arcaicos, que escondem e revelam imagens em estado latente numa afinidade com o analógico. Os prolongamentos do corpo, as cabeças–máquina, remetem-nos, por exemplo, para o humor promovido em “Turtles Into Cameras” de Taiyo Onorato and Nico Krebs.

As construções que servem de adereços para o corpo ou como elementos que apoiam as composições/enquadramentos são referentes nas ficções que, salvo raras exceções, parecem partes de percursos em contextos diversos e por lugares sem localização. São situações em ambientes que fazem parte do nosso conhecimento empírico - recordo as narrativas de Victor Burgin. 

São florestas, campos, praias, montanhas que recebem personagens e adereços – construções primárias em matérias e com ferramentas triviais.

Estes encontros imaginários de estrutura poética simples parecem arquivos de ensaios que se fixam através da fotografia, em álbuns de recordações baseados em proposições de exploração e experimentação da vida e no mundo.

- “Hoje vamos fazer um piquenique e vais ver como é simples apanhar um pedaço de nuvem para ti!”

- “Amanhã vamos fazer um acampamento e explorar o território. Não te esqueças de levar a tenda e a mochila! Atenção que também pode ser necessário atravessar um riacho…”

Foi num curto mas empático encontro, com quebras e interrupções constantes derivadas das circunstâncias, que dei por mim seduzida pelas sensibilidades destes artistas lamentando a minha impossibilidade temporal de não estar mais… 

- “Hoje fotografas tu mas amanhã quem opera sou eu!”

- “Combinado!”

 

Fica este pequeno texto e uma breve nota final:

Como se me fosse possível recusar um texto para a Galeria Serpente. Para um projeto que vi nascer, do qual fui parte e faz parte de mim e do meu percurso. Um projecto que só é possível pelos afectos, pela dedicação e pelo amor. Obrigada Isabel e Rodrigo! 

 

 

Rute Rosas